Uma grande rede de supermercados sabe como despertar seu desejo de comprar
Já aconteceu com todo mundo, ou quase: você chega no caixa do
supermercado para passar as compras e o valor da conta é bem maior que o
previamente imaginado. Você sai da loja encucado pensando “como os
preços subiram!” e começa a se preocupar com as contas do mês.
Claro que os preços sobem, mas uma parte disso também tem a ver com a
forma como você lida com as compras. Fundamentalmente, somos seres
impulsivos. Cansados do excesso de trabalho, a avalanche de informações e
o exagero de responsabilidades, ficamos mais vulneráveis e frágeis: com
uma séria tendência a aceitar a maior parte do que nos ofertam.
É aí que mora o perigo. “O supermercado é um lugar criado para
estimulá-lo ao máximo, fazer você agir por impulso e separá-lo do seu
dinheiro”, lembra André Massaro, educador, consultor financeiro e
pesquisador na área da psicologia econômica, que estuda a tomada de
decisão das pessoas em situações de consumo, investimento, carreira,
entre outras. “Uma rede grande tem muitos recursos, contratam os
melhores psicólogos, antropólogos e profissionais de marketing que o
dinheiro puder pagar.” Tudo isso para despertar o seu desejo de comprar.
A pergunta central é: dá para lutar contra essas estratégias? A
resposta de Massaro é clara. “O consumidor está lutando contra um
exército, não dá para vencer o supermercado”, diz. Mas ele garante que
dá para reduzir o impacto dessas artimanhas. E uma boa notícia: é
razoavelmente fácil fazer isso.
Basta buscar informação e observar o próprio comportamento. “Essa
coisa de evitar de ir ao supermercado com fome, por exemplo, é só a
ponta de um fenômeno absolutamente mental e muitas vezes inconsciente”,
explica o estudioso. Por isso, se você entrar na loja consciente das
suas limitações e pronto para receber uma avalanche de estímulos, tudo
pode mudar. “Se você mostrar para a pessoa que isso é feito dessa forma,
ela fica mentalmente vacinada.”
Confira as 10 sugestões de Massaro para você manter mais dinheiro no seu bolso e menos na caixa registradora do supermercado.
1 – Irás aos mesmos supermercados
Parece estranho, mas saber exatamente onde fica cada produto vai te
ajudar muito a evitar as compras por impulso naquela “passeadinha”
enquanto procura o pão ou o leite. O próprio Massaro diz utilizar essa
técnica para evitar gastar mais que o previsto. “Na maior parte das
vezes os supermercados são organizados de forma similar, em uma escala
produtos de menor valor agregado para a direita, como frutas e legumes, e
outros mais caros, como os eletrodomésticos à esquerda”, explica. “Só
que nem sempre é assim, então você se vê obrigado a circular. Melhor ir
na loja em que você sabe onde as coisas estão.”
2 – Evitarás as promoções “pague dois leve três”
Tudo no supermercado tem uma razão de estar lá, inclusive aquela
promoção para desovar o estoque que está com o vencimento mais próximo. E
os profissionais do varejo sabem o quanto nós, meros mortais, somos
incapazes de resistir a uma promoçãozinha. Por isso, repita como um
mantra: não importa a promoção, comprar o que não precisa será,
invariavelmente, um gasto a mais.
3 – Não tentarás sair em vantagem
Exatamente por que eles sabem dos nossos impulsos e do nosso
comportamento no comércio, Massaro tem uma má notícia. “A gente não
consegue vencer o supermercado e temos a necessidade psicológica de
levar alguma vantagem”, diz. Quando você estiver pensando que este ou
aquele produto está saindo “quase de graça” é porque você estava pagando
mais antes e, naquele momento, era interessante para o mercado fazer
você acreditar que está em vantagem.
O mesmo se aplica a “oportunidades únicas” e também a àquelas
promoções das dez últimas unidades da televisão plasma ou do fogão de
seis bocas: o dinheiro que o mercado está deixando de receber na
promoção certamente é compensado nos outros produtos.
“A gente sai de uma gôndola com a falsa sensação de ter saído em
vantagem e no fim o produto não vai te atender”, diz. Além disso você
fica mais propenso a compensar o ganho naquele papo “já que economizei
no arroz, vou comprar um feijão de primeira”.
4 – Ficarás o mínimo de tempo possível no supermercado
Como a “luta contra esse exército”, como disse Massaro, é tão desigual, a
melhor saída é ficar o mínimo de tempo exposto aos estímulos para os
olhos e a mente. Se você não pretende gastar mais que o necessário,
evite passear no supermercado – o mesmo vale para shopping centers e
galerias.
5 – Não estocarás alimentos
Aproveitando
esse assunto, é bom lembrar que você só está em guerra dentro do
supermercado e não fora dele. Não faça grandes estoques, caso contrário
você correrá o risco de ter produtos vencidos e principalmente de perder
as contas do que você realmente tem em casa.
6 – Não levarás as crianças
Se a ideia for passar pouco tempo na loja, é evidente que as crianças
devem ficar em casa. No entanto, essa preocupação é fundamental para
quem planeja gastar o mínimo, principalmente porque elas pedem – e
muito. São bravos os corações e raras as carteiras que resistem aos
olhinhos brilhantes pedindo o pacote de biscoitos recheados do personagem do momento – que custa o dobro do preço de um outro não licenciado.
7 – Buscarás estar em boa companhia (financeira, é claro)
Portanto, como diz Massaro, o melhor jeito de ir ao supermercado é
sozinho. Exceto para aqueles que têm dificuldade em controlar o impulso.
Esses devem sim levar alguém mais controlado que eles, que possa por
limite nas compras. “Se for para levar alguém com você, leve alguém que
te segure. Uma pessoa que faz comprar mais não ajuda.”
8 – Farás listas e mais listas
“Ir para um supermercado é um momento de guerra e o seu planejamento de
ataque é a lista”, brinca Massaro. Piadinhas à parte, o especialisa
explica que ter uma lista nas mãos lembra você do que você realmente
precisa comprar – não serve apenas para não te deixar esquecer dos itens
relevantes. Por isso, mesmo se tiver a lista decorada, leve ela para as
compras e a mantenha sob os olhos o tempo todo.
9 – Observarás todas as prateleiras
Parece paradoxal, mas não é. Se você não tiver uma preferência clara por
esta ou aquela marca, quando estiver na sessão do produto que vai pegar
naquele momento, olhe de cima a baixo. Os produtos expostos na altura
dos seus olhos estão estrategicamente posicionados ali com base em
pesquisas sobre a estatura média de homens e mulheres em determinada região. Não estranhe se os produtos mais caros estiverem
ali, ao alcance da mão – em alguns casos, há até empresas que pagam por
um bom posicionamento na prateleira. Ou você acha que, em algumas
livrarias, por exemplo, aquela pilha de livros que te recebe logo na
entrada é uma forma de curadoria literária? Aliás, aproveite para
comparar com as listas dos mais vendidos e tire qualquer dúvida de que
essa estratégia funciona.
10 - Ficarás ainda mais vigilante se situação financeira piorar
Claro que você pode fazer tudo isso, só não pode ficar paranóico.
Massaro mede o excesso de preocupação com a régua do bom senso. “Quanto
mais precária for sua situação financeira, maior terá de ser a sua
paranoia”, diz. “Quem está bem de vida pode se dar ao luxo de ser
ineficiente eventualmente, mas é preciso estar consciente disso.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário