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domingo, 23 de março de 2014

Editoras lançam obras com tema da ditadura

  • Reprodução | AE
    O presidente João Goulart (ao centro) na cerimônia de sua posse, realizada em Brasília, em 1961
Não é qualquer efeméride que tem o poder de movimentar o mercado editorial brasileiro com livros capazes de encher  as prateleiras das livrarias  e ainda trazer um material aprofundado, reflexivo e diversificado.
A deposição do presidente João Goulart, evento que deu início à ditadura militar no Brasil e completa 50 anos no próximo dia 31,  provoca tal feito. Desde o final do ano passado, as editoras vêm investindo na temática com títulos inéditos,  relançamentos e projetos especiais.  Às vésperas da data, o volume de publicações ganha mais vulto ainda.
Para o historiador Jorge Ferreira, a quantidade de títulos publicados e seminários realizados mostra que o golpe ainda é um evento que incomoda o País.
"Nos 40 anos do golpe, ocorreram eventos e livros foram lançados, mas não na mesma quantidade que se tem hoje. Parece que quanto mais a sociedade brasileira está longe do golpe no tempo, mais quer avaliá-lo de maneira crítica e valorizar o regime democrático diante da experiência tão dura que foi o período da ditadura", afirma o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em  1964 - O Golpe que Derrubou um Presidente, Pôs Fim ao Regime Democrático e Instituiu a Ditadura no Brasil, Ferreira defende que o golpe apoiado por setores conservadores da sociedade civil-militar não era inevitável. "As decisões tomadas por diversos atores  alimentaram o radicalismo e resultaram no golpe. Poderia ter acontecido de outra maneira".
Diversos formatos
Os lançamentos apresentam a ditadura e seus personagens por meio de textos com forte rigor acadêmico, biografias e até poemas.
Em A Ditadura Militar e os Golpes Dentro do Golpe 1964 - 1969,  Carlos Chagas parte da história contada por jornais  para apresentar desde a derrubada de João Goulart até os acontecimentos que sucederam o Ato Institucional nº 5 (AI-5). A proximidade do autor dos bastidores dos eventos é um diferencial da narrativa. Além de acompanhar o período como jornalista, ele foi secretário de imprensa do governo Costa e Silva.
"O presidente Costa e Silva disse que não passaria à história como mais um general sul-americano que golpeou as instituições. Ia revogar o AI-5 e reabrir o Congresso. Gostaria que eu fosse o seu porta-voz para ir alimentando a imprensa, aos poucos, com aquelas notícias. Não me arrependo por haver aceitado", diz.
 A Palavra Contra o Muro, de Pedro Tierra, pseudônimo de  Hamilton Pereira da Silva,  chama a atenção por falar do tema em versos escritos no cárcere de 1973 a 1977.
"Os poemas buscam refletir o cotidiano das prisões políticas no Brasil. Foram escritos porque minha vida não teria sido possivel sem tê-los escrito. Servem para que a gente possa compreender a ditadura não de um ponto de vista estritamente político, mas estético e filosófico da experiência humana", diz.
Entre as novidades do mercado, destaca-se ainda Francisco Julião, biografia de um dos importantes líderes dos sem-terra brasileiros, considerado pela ditadura um incendiário revolucionário.
Até mesmo a aclamada série de Elio Gaspari - A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Encurralada (2002 a 2004) - ganhou novo fôlego. A Intrínseca relança edições revistas e ampliadas, versões em e-book e o site www.arquivosdaditadura.com.br, com documentos da pesquisa.

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