Chegou
mais um dia de decisão do BC sobre os juros. Nesta quarta-feira (10) o Copom
faz a penúltima reunião de 2012. Até bem pouco tempo atrás, o Brasil era
conhecido como o país com uma das maiores, senão a maior, taxa de juros do
mundo. Não temos mais essa posição, graças à ousadia do BC em reduzir
fortemente a taxa para os atuais 7,5% ao ano. Porém, para o ex-presidente do
BC, Gustavo Loyola, ainda estamos no alto do pódio quando o tema é inflação. “A
economia está crescendo muito pouco e a inflação manteve-se num nível muito
alto. O Brasil continua sendo campeão inflação no mundo. Imagine quando a
economia estiver crescendo mais, para onde ela vai? O mercado de trabalho está
muito apertado, os salários têm crescido acima da produtividade. Nós conversamos
com as empresas e a maior reclamação é sobre o custos de mão-de-obra
crescentes”, disse ao G1 o sócio da Tendências Consultoria.
Para o economista, o governo e o BC têm razão ao dizerem que o índice oficial
de preços, o IPCA, vai cair em 2013 com as medidas adotadas esse ano, como a
redução das tarifas de energia elétrica e as isenções de impostos. Mas ressalta
que esse efeito não será gerado por um esfriamento da demanda por consumo no
país. “Há fatores pontuais, como a redução das tarifas da energia, que vão
mostrar um IPCA talvez ainda confortável em 2013. Mas é um efeito
temporário, não tem a ver com a demanda, tem mais a ver com oferta. Nossa
previsão é de que a inflação do ano que vem, na melhor das hipóteses, fique
igual a esse ano, em 5,5%. Mesmo com os choques positivos, dificilmente o
IPCA vai desgarrar muito acima disso”, analisa. O ex-BC afirma que os ajustes
necessários de hoje exigem uma sintonia mais fina. Para ele, não vivemos mais
com uma economia que precisa de grandes choques para acertar o rumo. Por isso,
se for preciso que o BC volte a subir os juros para evitar um “desgarramento”
mais intenso da inflação, não deveremos voltar para uma taxa na casa dos dois
dígitos. “Com esse ambiente externo de menor crescimento mais os avanços que
tivemos aqui no Brasil, uma retomada dos juros não vai exigir um patamar muito
alto para que se tenha um ajuste da demanda nos níveis adequados. A nossa
hipótese é que não volta para casa dos dígitos – 9% seriam suficientes para
manter a inflação num nível confortável”, diz Gustavo Loyola. Entretanto, isso
não desfaz o nó atual da economia: conseguir crescer 4% ou mais sem acelerar a
inflação, que já está acima do que é saudável para o país. “Essa é a
dificuldade de crescer. O que é o máximo possível para o mercado, é o mínimo
para o governo, que é um PIB de 4%. Fazer isso sem evitar que a inflação
continue longe do centro da meta (de 4,5%) é muito difícil”. “O governo se auto
impôs uma limitação de alta de juros. Isso virou uma plataforma politica da
presidente Dilma. O trabalho do Tombini (presidente do BC) fica mais
complicado. Claro que todo presidente gosta de juro baixo, mas não se pode
aprisionar a política monetária. Acho que a inflação faz um mal político
maior”, conclui.
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