Depois de um bate boca em plenário, na segunda-feira, 7, entre o
presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo e o líder do governo
Zé Neto (PT) por causa da intenção dos parlamentares de processar o
radialista Mário Kertész, os deputados estaduais fumaram o cachimbo da
paz. O impasse foi motivado porque Zé Neto não queria assinar o
requerimento dos deputados para iniciar a ação e tentava convencer os
colegas de bancada que não seria uma boa ideia brigar, judicialmente,
com o radialista. Contudo, os petistas insistiram na ação, Zé Neto
recuou e resolveu assinar o documento. A ação foi dada entrada na noite
dessa terça, 8. Pouco antes, na sessão desta quarta-feira, 9, Nilo e Zé
Neto pediram desculpas pelos "excessos". Os outros deputados
interpretaram que a Casa saiu "mais grande" com a união de todos contra
Kertész.
A briga começou quando o radialista começou a cobrar a divulgação da
lista de servidores da Assembleia. Nilo prometeu, no ar, durante
entrevista a Kertész na Rádio Metrópole, entregar a relação, mas
irritou-se quando o radialista passou a fazer campanha cobrando a lista,
o que é garantido inclusive pela Lei da Transparência. O presidente da
Assembleia argumentou que o pedido havia sido feito apenas de boca,
sendo necessário encaminhar um pedido formal com base na Lei da
Transparência. Num dos seus programas radiofônicos Kertész referiu-se
aos deputados como 63 "sacanas" e que havia um esquema de "corrupção na
Casa". Esses termos teriam ofendido os parlamentares, conforme se
queixaram.
O termo "corrupto" é conhecido. Mas sacana tem vários sentidos, um até
positivo. O dicionário Houaiss diz que "sacana" como adjetivo, pode
indicar o sujeito "brincalhão, de espírito crítico ou trocista, que faz
comentários ou brincadeiras divertidas". Por outro lado, "sacana" também
é "libertino, devasso, sensual", quem tem "mau caráter, que ou quem
ludibria ou aufere vantagens que caberiam a outro(s); finório,
espertalhão". Como uso informal "sacana" também pode ser usado para se
referir a "qualquer pessoa" ("diga àquele sacana que gosto dele"). O
problema é que, como substantivo masculino o termo também é usado para
caracterizar "indivíduo que masturba outro" ou "homossexual passivo".
Esse último, pelas suas posições antigays, deve ter desagradado em
especial o deputado pastor Isidório de Santana (PSC).
O curioso da situação é que alguns deputados, entre os quais o próprio
Marcelo Nilo, elogiaram a pessoa que querem processar. "Reconheço que
ele é um homem preparado", disse, achando contudo que no episódio ele
extrapolou. Para justificar a posição dos deputados, o presidente da
Assembleia chegou a citar uma frase do lendário primeiro ministro inglês
Winston Churchill: "sabe qual o maior defeito do homem? Perder a
coragem". Disse que se não tomada essa atitude, a Assembleia seria
"desmoralizada". Outro que elogiou Kertész, embora também tenha assinado
o requerimento, Carlos Geílson (PTN), que também é radialista. "Tenho
respeito por Mário que é preparado e uma pessoa polêmica, mas ele
excedeu o seu papel". O único dos 63 deputados que não assinou ação foi
Capitão Tadeu (PSB), que é comentarista da Rádio Metrópole, de
propriedade de Kertész.
Serão duas ações, uma criminal de calúnia, injúria e reclamação, outra
de danos morais com pedido indenização cujo valor será fixado pela
Justiça em caso de condenação. O advogado contratados pelos deputados é o criminalista Alfredo Vernet Lima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário