Por: Reinato Sousa
Silva
Com o advento da chegada
de empresas que pretendem explorar a geração de energia eólica na Micro Região de Irecê, em especial no Município de Gentio do Ouro - BA, parte setentrional da Chapada Diamantina,
diversos pequenos produtores (agricultores e pecuaristas) da nossa região estão
vendendo as únicas áreas que possuem e exploram para sustento próprio a da
família, a diversas empresas
atuantes na região, sem ter nenhuma orientação jurídica ou
de qualquer outra natureza para os negócios.
Muitos deles sequer
sabem assinar seus nomes, outros até sabem ler, mas não o suficiente para
compreender a complexa linguagem jurídica usada na maioria dos
contratos.
O fato é que tarefa a
tarefa, hectare a hectare, nossas terras estão
sendo vendidas, sem nenhuma restrição
ou controle, a empresas de outros Estados, comandadas por pessoas desconhecedoras
da nossa
realidade, sob a justificativa de que os produtores poderão continuar explorando
parte da área vendida, na condição de comodatários.
Ora, mas o que
obrigará tais empesas a firmarem
os contratos de comodato para que os produtores possam continuar trabalhando na
área onde possuem suas roças há dezenas de anos, se
isto não estiver previsto em contrato?
E ainda que estas
empresas compradoras da área honrem sua palavra e permitam que os produtores
rurais continuem na área inicialmente, quem garante que isso terá continuidade e
que os contratos de comodato serão regularmente renovados?
E quem garante também
que, caso as empresas donas destas áreas adquiridas recentemente
vendam-nas para outras, as novas
donas honrarão o compromisso firmado entre produtor rural e a atual proprietária
do imóvel?
Entre as tantas dúvidas
que povoam minha mente, a que mais me intriga é a que intitula este comentário:
É possível vender a subsistência? A resposta fica por conta de vocês, caros
leitores.
Porém, na minha humilde
opinião, é o que está acontecendo em nossa região. Os produtores rurais,
ingenuamente, estão vendendo o que garante sua subsistência na região, que são
suas propriedades rurais, onde há anos plantam e criam e, sem adentrar no mérito
da questão dos crimes ambientais, caçam e retiram a madeira que usam no
dia-a-dia.
Vender uma área que pode
ser arrendada, novamente em minha
opinião, é,
no mínimo, muita ingenuidade (ou ignorância
mesmo),
pois recebem um valor que julgam alto pela área
vendida
(que na
verdade vale muito mais), mas que rapidamente será
gasto, quando poderiam, ao invés
disso, ter
uma renda fixa de, pelo menos, R$ 8.000,00 (oito mil
reais) anuais arrendando a mesma área,
logicamente
com a vantagem de NÃO precisar
deixar a área, porque
arrendando não se deixa de ser o dono da terra.
Então pergunto mais:
Como ficarão
estes pequenos produtores que
estão vendendo suas áreas, caso sejam impedidos de utilizá-las?
Como ficará nossa região
caso isso ocorra?
Cadê os Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais das cidades onde este fenômeno está ocorrendo, por que não orientam os
trabalhadores rurais sobre seus direitos e
sobre o que
é mais vantajoso para eles?
Ora, quando há dinheiro em
jogo, a regra é ficar em silêncio? Ou eles só se
interessam
mesmo em
retirar os cerca de R$ 10,00 (dez
reais) de
contribuição sindical de cada agricultor por
mês?
E as autoridades
(prefeitos, vereadores etc.) onde estão? Também
vendendo suas áreas para as empresas, por isso em silêncio?
Esta última ouso
responder: Acho que não, porque as autoridades sim, possuem condição financeira
pra ter assessoria jurídica que muito bem os tem orientado a não vender, mas sim
ARRENDAR suas terras.
Espero que este texto
sirva para reflexão de cada um que teve paciência para lê-lo até aqui e que seja possível
compreender que, como diz o velho ditado popular “nem tudo que
parece é”!
Agradeço os comentários,
sejam críticas, sugestões ou mesmo elogios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário