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domingo, 19 de outubro de 2014

Embate de Dima e Aécio será maior em área formada por 2,9 mil cidades

A distribuição dos votos de Dilma Rousseff (PT) e a soma dos candidatos de oposição no primeiro turno escondem alguns detalhes na mais competitiva das eleições presidenciais desde 1989. Além do tradicional vermelho usado pelo PT, ou do azul do PSDB, há grandes áreas cinzas no país, formadas por mais de 2,9 mil municípios, onde nem situação, nem oposição, dominaram eleitoralmente no primeiro turno.

São áreas onde houve uma distribuição mais equilibrada da votação desses dois grupos, ou seja, votações sem um padrão definido para qualquer um dos lados considerando o conjunto desses municípios. No primeiro turno, essa área cinza somou mais 45 milhões de votos. Desse total, 21 milhões foram para Dilma, e 25 milhões para os candidatos de oposição.

Para identificar essas distribuições, o Núcleo de Jornalismo de Dados do GLOBO utilizou uma técnica de estatística espacial, que leva em conta aspectos geográficos para definir o tamanho das áreas de domínio político. A técnica permite saber também quais dessas áreas podem consideradas estatisticamente relevantes para formar as manchas. Nesse caso, a formação das áreas ocorre quando a proporção de votos da situação ou da oposição foi alta num município e também em cidades vizinhas.

Esse tipo de análise permite identificar, portanto, quais são as áreas onde a situação e oposição têm, em tese, maiores chances de ampliar as suas votações por conta do chamado “efeito de vizinhança”. Ou seja, o predomínio de um grupo numa área pode ser fator importante de mobilização dos eleitores em municípios vizinhos.

Na área cinza, tudo indica que Dilma e Aécio terão que suar a camisa para conquistar votos. O candidato do PSDB leva certa vantagem para atrair os demais votos dos eleitores que apostaram na oposição já no primeiro turno, mas a migração total dos votos não é uma garantia. Isso porque esse efeito pode ocorrer apenas em um município e não se repetir numa cidade vizinha, em que Dilma foi a mais votada. Nesse caso, o apoio à petista pode ajudar a barrar a força do efeito de vizinhança. Outro fator é a distribuição dos votos de Marina Silva (PSB) que não necessariamente podem migrar integralmente para Aécio.


 

Sonia Terron, cientista política e coordenadora do Grupo de pesquisa em Análise Espacial na America Latina (Alacip), concorda com a possibilidade da expansão dos votos da situação e oposição nas áreas onde eles já dominam. No caso das áreas cinzas, ela lembra fatores que podem interferir na dinâmica dos votos, como o fato da análise considerar na soma dos votos da oposição os votos de Marina que, sozinhos, poderiam ajudar a formar outras manchas onde ela foi bem votada. Outro fator que pode interferir no efeito de vizinhança é o histórico de votação:

— Se as áreas em cinza próximas ao cluster (mancha) azul têm um histórico de votação municipal mais favorável a Dilma, haverá mais resistência à expansão de Aécio, como é o caso, por exemplo, dos municípios mais a oeste do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sudoeste do Paraná. A resistência à expansão também pode ocorrer por fatores políticos locais. Ou seja, devemos levar em conta os anteparos político-territoriais que podem favorecer ou impedir a expansão direta das fronteiras. Pernambuco é um exemplo de anteparo político que se formou à Dilma nesta eleição na região Nordeste.



Pela distribuição, as manchas da votação de Dilma em mais de 1,2 mil municípios forma uma grande área vermelha, no Nordeste e em parte do Norte do país, onde a candidata tem chances de expandir seu domínio. Os votos da oposição (soma Aécio, Marina e outros) constituem uma mancha azul em mais de 1,3 mil municípios do Sudeste, parte do Sul e do Centro-Oeste, onde também o tucano pode expandir sua votação. Na área de predomínio da situação, o total de votos nominais chegou a 14 milhões. Nessa área, Dilma recebeu cerca de 72% dos votos. Nas áreas de predomínio da oposição, a votação da candidata do PT caiu para 27%. Já nos municípios que formam a área sem predomínio político, segundo os parâmetros utilizados nesse tipo de estatística, Dilma ficou com 45% dos votos e aposição, com 54%

— Nestas áreas cinzas muitos fatores estão em jogo e a competição deve ser mais acirrada. Da perspectiva territorial deve-se levar em conta a geografia eleitoral e a transformação dos territórios eleitorais dos dois partidos ao longo desta série de confrontos desde 1994, as diferenças e transformações regionais, bem como a tendência de apoio diferenciado aos dois partidos pelo porte populacional dos municípios. Outra consideração é que a proporção deste efeito de proximidade dependeria da maior ou menor interação entre eleitores de municípios próximos — pondera Sonia Terron.

 FONTE: O GLOBO

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