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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Jovens hoje são mais políticos e menos partidários do que os das Diretas Já


O ano de 2013 surpreendeu quem acreditava na apatia política do jovem brasileiro. Milhões saíram às ruas e movimentaram a agenda politica nacional a partir do grito por passe livre no transporte público. No dia 21, auge das manifestações que marcaram o mês de junho, 100 mil pessoas tomaram as principais vias paulistanas e pararam a capital financeira do País. O número, mesmo gigantesco, é menos de um décimo da massa de 1,7 milhão que encheu o centro de São Paulo no dia 17 de abril de 1984, todos entoando o grito por Diretas Já.
Nas três décadas que separam os dois momentos políticos, seis presidentes foram eleitos diretamente, os brasileiros viram suas opções de partido saltarem de quatro (PMDB, PTB, PDT, PT) para 32, e a população saltar de 129 milhões para mais de 202 milhões. No período de maior estabilidade democrática do Brasil, o PIB per capita cresceu mais de oito vezes, saltando de R$ 2.696 em 1984 para R$ 22.235 em 2012, embora não na mesma proporção que a distribuição de renda. As manifestações, que começaram em março de 1983, em uma era sem internet e à mercê da TV e dos Correios, levaran um ano para cair no gosto do brasileiro. Em 2013, o País entrou em chamas em menos de um mês. 
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Uma coisa não mudou: a disposição política do jovem. Apesar das mudanças das bandeiras e dos métodos de expressão escolhidos, a geração que se formou sem vivenciar as Diretas ou o movimento dos Caras Pintadas em 1992, também se preocupa com política - mas não a "velha política" de sempre. Para o professor da Unesp Marco Aurélio Nogueira, autor do livro “As Ruas e A Democracia”, os jovens de hoje são resistentes a algumas características dos partidos, como estrutura hierárquica e ritos burocráticos. "Antes, em 84, os jovens eram mais ‘partidários’. Hoje, são mais ‘políticos’, no sentido de que se preocupam mais com o modo de intervir para que a vida coletiva melhore. Além disso, não aceitam a ideia de que seria preciso fazer uma entrega incondicional à política, como se a política devesse ocupar a maior parte do tempo de vida de alguém. [Eles] negociam seu engajamento e buscam preservar zonas consistentes de vida fora da política", analisa.
Para o o historiador da UFRJ Carlos Fico, é errada a leitura de que hoje "os jovens são despolitizados". "A juventude tem uma politização que, claro, tem características diferentes, mas que estão sempre dispostos. A política muda, e a própria forma de manifestação muda. Hoje em dia há um importante papel das redes sociais, que antes não existia. Os objetivos são distintos. As manifestações hoje em dia tem uma inteligência muito grande, principalmente em relação aos eventos simbólicos. Os rolezinhos, por exemplo, os meninos que fazem têm noção consciente ou inconsciente da importância de aparecer na mídia", afirmou.
Todos filmam, fotografam, ensaiam gritos de guerra e performances, contra a polícia, o sistema, o mercado. As bandeiras variam, mas todas orbitam em torno de maior acesso à cidadania: transporte, saúde, educação etc. A tática black bloc, marca das manifestações após a redução da tarifa (de julho em diante), explora a força dos símbolos em todas as suas ações: das máscaras pretas para não serem identificados aos alvos escolhidos nas quebradeiras dos rescaldos dos protestos, como as agência bancárias.  

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